quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Poesia: Batida pouca


Sei que promessas de amor são ridículas

E que todos os juramentos caem no chão

Sei que somos pessoas racionais e adultas

E que nada que digo será refrão de balada

Sei que toda paixão será castigada

E que poucos terão casinhas no céu

Sei que acertar seria demais

E que nos erros seguimos com o mundo

Mesmo assim, mesmo vendo tudo o que acontece

Com olhos tranquilos de poucos problemas

Não saberia dizer, racional, que meu amor é seco como o chão

Sei que meus resmungos não se ouvem depois da serra

E que o olhar pidão só aparece na foto

Sei que juntar os pedaços demora mais do que parece

E que poucos aparecem para ajudar na colheita da dor alheia

Mesmo assim, mesmo sem ter uma razão

Com contas e casos e calmarias

Não poderia viver, afinal, sem o que me diz surdo e grave embaixo do peito

Croniquinha: Copyrights, imortalidade...

E mais uma do le blogue, agora mais animado a escrever, finalmente as maiores correrias do serviço passaram, mucha lucha, hermano.....

Agora que eu vi que algumas imagens que eu coloco no começo das postagens sumiram. Como eu não tenho a pretensão de ganhar dinheiro com le blogue, considerei que não ia ter problema puxar umas imagens para dar uma ilustrada nos textos, mas hoje tudo é na base do dinheiro....

E tem de respeitar o copyright, beleza, muitos amigos & conhecidos meus ganham dinheiro através da criação artística, a forma de trabalho mais atacada pela pirataria e falta de respeito com a criação alheia. Mas, e sempre tem um mas no mundo, quem trabalha com arte sabe que tudo vem de alguma referência.

Lembrei agora da referência que os pintores impressionistas tinham com as xilogravuras japonesas que vieram à Paris junto com as porcelanas e peças de laca importadas, não havia obviamente um colar e copiar direto, mas a forma que os pintores japoneses tinham de pintar o cotidiano com cores fortes e vibrantes foi inspiração de muito impressionista.

Hoje a gente vê muito disso nos “memes”, uma imagem simples, modificada várias vezes de várias formas em colaborações espontâneas. Claro que o criador da primeira imagem do Forever Alone ficaria rico com os direitos de imagem caso cobrasse, mas isso acabaria engessando a criação correlata.

Opinião pessoal: sim, o artista tem de receber pela criação, mas deve haver uma melhor discussão sobre os direitos da arte, para evitar o vale-tudo sem fronteira nem direitos, mas também para permitir mais trabalhos colaborativos. Em tempo: este blog permite a reprodução parcial ou total das barbaridades escritas aqui, desde que seja citado o autor das insanidades, hehehe....

Mudando o assunto, vai aqui um brainstorming dos que tenho regularmente com o artista local, o EdyJô. Pintor/escultor bom pra caramba, e também um dos melhores papos que tenho fora do serviço.

Depois de um expediente chafurdado no rame-rame administrativo e político, é ótimo ter este tempo para uma conversa boa. E em uma das conversas, imortalidade entrou na pauta. Com tantas melhorias médicas, pesquisas e afins, em um futuro o final da vida poderia em teoria ser uma opção da pessoa.

Mesmo sabendo que é um assunto chato de lidar, eu sou favorável que a existência tenha um término, e explico-me. Somos um dos poucos seres vivos nesta terrinha que temos a consciência do próprio fim, e mesmo causando uma angústia enorme em muitos, tem de pensar que isso é um impulso também. Não estou falando de “ah, tem um terreninho pro céu pra mim”, é saber que tem de fazer as coisas aqui, e temos um prazo, que não pode ser revogado.

Claro que vemos tantas pessoas boas indo tão jovens, enquanto tantos canalhas continuam bem de saúde, só com alguns cabelos brancos disfarçados pela química capilar moderna. E que a “indesejada” não é justa, afinal ela é um fato natural, não se julga o ato moral da erupção de um vulcão, vulcões soltam lava porque são assim, pessoas morrem porque estão vivas (sim, momento Capitão Óbvio nível máximo, hahaha).

Resumindo, eu sigo na convicção que ok ter uns aninhos a mais para alguma coisa a se fazer, quem sabe ir para outra cidade encontrar o grande amor da vida, ou então pular de pára-quedas, ou comer um sanduíche de mortadela, mas querer ser eterno apenas pelo medo do que possa ter do outro lado da cerca – viva, é gasto sem razão. Bom, indo nessa, até outro dia.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Conto: Loop


Sempre às sete da manhã, o celular toca o alarme. E sempre o MP3 pirata que ele achava legal seis meses atrás, e hoje odeia a música. Um pop dançante que fazia recordar as festas de sábado, mas agora na hora ele lembra “merda, eu acordo com esta bosta tocando”. “Agradeço ao japonês preguiçoso que inventou a tecla sleep...”, e ele deixa mais 15 minutos de meio-sono, meio-acordado até tocar de novo, e de novo ele ficar com raiva de um rapper americano que hoje deve ganhar muito com esta música, tirando é claro os MP3 piratas baixados por aí.

Depois tudo vira uma sequência de filme mudo: ligar tevê para as notícias, café, cigarro (sempre para largar), roupa para o trabalho, banheiro e todos os cuidados pequenos, conferir os bolsos, carteira, chaves, desligar tudo, deixar comida para o cachorro, ir para o trabalho. Visto de fora, uma pessoa atarefada, ocupada com o presente, com as responsabilidades de adulto em dia. Por dentro, não, tem algo fora do lugar.

Mas, é dia de serviço. No horário, encontrar papéis que esperaram uma noite de reencontro para serem finalmente catalogados, carimbados, registrados e depois destas experiências agitadas, os papéis ainda um pouco zonzos vão descansar em arquivos junto com outros papéis. As contas simples e palavras difíceis oficiais vão sendo feitas e arquivadas, para tudo um lugar, um número, um espaço a ser criado e depois a tudo guardar, estocar, armazenar para um juízo final sem data definida.

Neste mundo seco e plano de papel, o corpo desconfortável e fora de peso se mantêm na base de café e pensamentos sem açúcar, com um monitor na frente, a cadeira segurando no lugar tudo o que fica inadequado.

Corre o dia, mas horas são coisas que aparecem no relógio no pulso direito, deixa assim por costume, e sabe que é visto diferente por viver num mundo de relógios no pulso esquerdo.

5 minutos de redes sociais são vistas, descobre um babaca, tenta lembrar porque adicionou, descobre que foi o referido panaca que queria acompanhar a vida dele para comparar e se achar melhor, resolve bloquear, “vida real deveria ter umas opções assim”, e segue com pensamentos de dois cliques.

Agora a conversa leve da empresa é sobre ração humana, pensa em comida para zumbis, tem de parar de jogar tanto videogame. E ao fundo, música calma para manter a produtividade, sente pequena vontade de matar o cara dos recursos humanos que inventa idiotices assim, mas o homicida interno é facilmente controlável, vai ficar fora das estatísticas.

No fim do dia, descobre o incômodo: está sonhando, e vai acordar daqui a 10 minutos com aquela musiquinha desgraçada no celular.