
Sempre às sete da manhã, o celular toca o alarme. E sempre o MP3 pirata que ele achava legal seis meses atrás, e hoje odeia a música. Um pop dançante que fazia recordar as festas de sábado, mas agora na hora ele lembra “merda, eu acordo com esta bosta tocando”. “Agradeço ao japonês preguiçoso que inventou a tecla sleep...”, e ele deixa mais 15 minutos de meio-sono, meio-acordado até tocar de novo, e de novo ele ficar com raiva de um rapper americano que hoje deve ganhar muito com esta música, tirando é claro os MP3 piratas baixados por aí.
Depois tudo vira uma sequência de filme mudo: ligar tevê para as notícias, café, cigarro (sempre para largar), roupa para o trabalho, banheiro e todos os cuidados pequenos, conferir os bolsos, carteira, chaves, desligar tudo, deixar comida para o cachorro, ir para o trabalho. Visto de fora, uma pessoa atarefada, ocupada com o presente, com as responsabilidades de adulto em dia. Por dentro, não, tem algo fora do lugar.
Mas, é dia de serviço. No horário, encontrar papéis que esperaram uma noite de reencontro para serem finalmente catalogados, carimbados, registrados e depois destas experiências agitadas, os papéis ainda um pouco zonzos vão descansar em arquivos junto com outros papéis. As contas simples e palavras difíceis oficiais vão sendo feitas e arquivadas, para tudo um lugar, um número, um espaço a ser criado e depois a tudo guardar, estocar, armazenar para um juízo final sem data definida.
Neste mundo seco e plano de papel, o corpo desconfortável e fora de peso se mantêm na base de café e pensamentos sem açúcar, com um monitor na frente, a cadeira segurando no lugar tudo o que fica inadequado.
Corre o dia, mas horas são coisas que aparecem no relógio no pulso direito, deixa assim por costume, e sabe que é visto diferente por viver num mundo de relógios no pulso esquerdo.
5 minutos de redes sociais são vistas, descobre um babaca, tenta lembrar porque adicionou, descobre que foi o referido panaca que queria acompanhar a vida dele para comparar e se achar melhor, resolve bloquear, “vida real deveria ter umas opções assim”, e segue com pensamentos de dois cliques.
Agora a conversa leve da empresa é sobre ração humana, pensa em comida para zumbis, tem de parar de jogar tanto videogame. E ao fundo, música calma para manter a produtividade, sente pequena vontade de matar o cara dos recursos humanos que inventa idiotices assim, mas o homicida interno é facilmente controlável, vai ficar fora das estatísticas.
No fim do dia, descobre o incômodo: está sonhando, e vai acordar daqui a 10 minutos com aquela musiquinha desgraçada no celular.
Eita Fabio num sabia que vc era uma cara cheio de pensamentos e ideias rsrsrs parabens ... legal isso....ass Kranz (Tritão)
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