
Mesmo depois da decisão do STF sobre o assunto acima, seguem os comentários, flamewars e afins em facebooks, twitters e postagens nos jornais por aí. O que eu estava pensando em escrever era sobre a caminhada histórica da união de duas pessoas consideradas adultas e aptas pelo Estado, e porque esta decisão do STF é mais um pequeno ajuste do que um “grave perigo para a família, blábláblá....”
Se formos ver, a ideia de casamento de duas pessoas por afinidade amorosa é invenção recente. Antes, e este antes falo da pré-história até talvez o século XIX e começo do século XX, na maior parte da humanidade casamento era negócio entre famílias. A família x possuía terras em tal lugar, a família y era boa em comércio, mas com poucas terras, os chefes de cada família se reuniam, decidiam que parte ficava com quem, fazia-se o contrato e uma festa em comemoração ao negócio, que era a filha da família x casando com o filho da família y. E acabou. Era assim, e ainda o é em alguns lugares do mundo. Para evitar problemas, os chefes das famílias eram proprietários dos filhos e filhas solteiros, e se fizessem a bestagem de casar por amor, eram devidamente castigados e mortos se repetissem a besteira. Mundo real é isso aí, fora disso é novela das 8.
Para dar-se um verniz mais civilizado, cria-se a instituição casamento, aprovada pela igreja, e com as penas impostas para quem resolver pisar fora da linha durante o contrato (vitalício). Com dois castigos, um feito pela sociedade (apedrejar adúlteros é prática antiga) e outro pela religião (fogo do inferno), o contrato se mantinha, apesar dos instáveis humores humanos.
Com o tempo, uma das partes deste contrato (as mulheres) por meio de muita luta foi conquistando seu espaço na vida pública, através do direito ao voto, do direito a ter bens próprios e não ter de pedir permissão a marido ou a algum homem mais velho da família para trabalhar, enfim as mulheres serem consideradas seres humanos. Outra parte da humanidade, os negros, também ganhou o direito dos legisladores (homens e brancos) de serem considerados seres humanos completos. Como se vê, até a humanidade foi ficando um pouco mais humana.... E assim com o tempo o casamento também muda de um contrato entre família para uma decisão entre dois adultos sem impedimento legal de ficarem juntos por que querem, e pronto.
Agora vamos ver, se são 2 seres humanos adultos, que não possuem nenhum impedimento legal de estarem juntos, que escolheram estarem juntos e passam pelos mesmos problemas e situações que uma união hetero afetiva, o Estado tem o dever de garantir os mesmos direitos. E ponto. Negar seria o Estado (em maiúscula quer dizer o poder público) declarar que existem no país cidadãos de segunda classe, que tem deveres, mas não tem os mesmos direitos.
A gritaria está em alguns mais radicais dizendo que agora o Estado irá obrigar igrejas e cultos a celebrarem casamentos homo afetivos (ainda estou me acostumando com este termo jurídico medonho). Espera lá, muitas igrejas e cultos que estão a gritar contra o Estado estão tendo o direito a culto garantido por ele. Antes da separação igreja/Estado, o Brasil era católico. E tão somente católico, qualquer outra forma de manifestação de culto dava cadeia. Portanto, vamos separar as coisas: de um lado, toda igreja ou culto é livre em sua manifestação e opinião Dentro de seu local de culto, se um local evangélico quiser impedir determinado grupo de participar de suas celebrações, é um direito dele.
O que não se podia e não se pode é a crença de um grupo impedir os direitos de outro grupo. Se existisse mesmo interferência do Estado sobre a religião, a Igreja Católica Apostólica Romana deveria por obrigação do Estado a ordenar mulheres para celebrar missas, já que a Constituição garante igualdade a todo cidadão.
Eu posso ter opiniões, devido a minha fé, que são contra outras pessoas pelo seu modo de falar ou agir, mas não posso por causa da força conjunta que minha religião possui a obrigar pessoas a seguir o que eu acho bom ou impedir outras pessoas a terem seus direitos e deveres previstos na lei, e estamos conversados, ok “bolsonarinhos”?
Portanto, no fim das contas o Estado está garantindo a um grupo da sociedade o direito a ter tédio e neuroses dentro de uma relação monogâmica e depois passar por uma bela dor de cabeça, porque união civil pode ter fim, mas ex é para sempre, hahaha...(brincadeira). E é opinião minha, é meu blog e dane-se, se é contrário faça um blog também, e me avise, estou ainda construindo este e estou com pouca ideia na parte do design....
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